sábado, 21 de janeiro de 2012

A política educacional de nosso município e de nossa escola


Após leitura da bibliografia destacada e grande reflexão sobre a política educacional municipal e de minha escola, inicio minhas reflexões citando a concepção de educação dos autores Oliveira, Moraes e Dourado:

“A educação pode ser entendida como a apropriação da cultura, historicamente produzida pelo homem, e a escola enquanto ‘locus’ privilegiado de produção sistematizado do saber. Isso significa que a escola precisa ser organizada no sentido de que suas ações, que devem ser eminentemente educativas, atinjam os objetivos da instituição de formar sujeitos concretos: participativos, críticos e criativos.

Diferentemente das empresas que ‘visam à produção de um bem material tangível ou de um serviço determinado, imediatamente identificáveis e facilmente avaliáveis’ (Paro apud Dourado), a organização escolar tem por meta básica a produção e a socialização do saber, tendo por matéria-prima o elemento humano, que, nesse processo, é sujeito e objeto. Desse modo, compreende-se que a organização escolar visa a fins que não são facilmente mensuráveis e identificáveis.”

Isto posto, “a função social da educação e da escola no processo de formação dos homens como sujeitos históricos, enfatizando o papel da organização escolar como instituição criada por esses sujeitos e seus desdobramentos na organização da sociedade” (Dourado) e que “pensar a função social da escola implica repensar o seu próprio papel, sua organização e os atores que a compõe” (Frigotto apud Dourado), o conceito de gestão ganhou novo significado no âmbito da ciência da administração e fomentou nova concepção de gestão escolar, dentro dos princípios da democracia que a sociedade brasileira experenciou a partir de meados dos anos 80 e que foram sacramentados na Constituição Federal de 1988.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394/96, apesar do contexto político que a produziu, estabeleceu em diversos artigos, o princípio da gestão democrática do ensino. Também o Plano Nacional de Educação reafirmou que tal princípio deve ser garantido em todos os sistemas de ensino.

Fica explícita a importância da autonomia, em todos os seus âmbitos, para que a democracia seja praticada então na gestão das escolas e dos sistemas de ensino. A coletividade dos diferentes segmentos escolares deve comprometer-se com a concepção democrática de gestão, extinguindo a tendência conservadora ainda existente em muitas escolas e evitando a prática da gestão de resultados ainda valorizada em muitos sistemas de ensino.

Assim, o Projeto Político Pedagógico é o instrumento garantidor dos fins e meios da democracia na gestão escolar. Quando a participação coletiva de todos os sujeitos da comunidade escolar se efetiva na elaboração e na avaliação de seu Projeto Político Pedagógico, a democracia é garantida e o papel social da educação se reafirma.

No município de Bragança Paulista, a gestão de educação escolar passou por profundas mudanças desde a publicação da nova LDB. A municipalização do Ciclo I do Ensino Fundamental trouxe grandes desafios aos gestores da educação, aos educadores e às comunidades escolares. Concursos públicos foram realizados para ingresso de professores, depois, de auxiliares administrativos, secretários, serventes, etc. Supervisão de Ensino e Coordenação Pedagógica passaram a ser reinvidicadas pelas escolas. Propostas pedagógicas passaram a ser desenvolvidas. Orçamento Participativo, Projeto Político Pedagógico e diretor escolar concursado também foram conquistas da educação bragantina.

Grandes passos rumo à gestão democrática foram dados desde a LDB. Porém, ainda há muito que fazer: dar autonomia jurídica às unidades de ensino para que elaborem seu Regimento Interno; remuneração aos profissionais das escolas sobre as horas de trabalho que se dediquem aos estudos, discussão e decisão, como por exemplo, de elaboração do PPP; dar maior autonomia pedagógica para que os Conselhos Escolares decidam a respeito de metodologias, corpo docente e recursos adotados no processo de ensino-aprendizagem. Não significaria alienar a Secretaria Municipal de Educação das decisões tomadas nas escolas, mas, dar a elas autonomia e, por conseguinte, legitimidade sobre a qualidade de ensino.

Atuo como gestora da E. M. “Profª Creusa Gomes de Azevedo” desde sua inauguração em 2010 e não houve, portanto, gestões anteriores para aqui avaliá-las, porém, os profissionais que se removeram para a unidade de ensino, trouxeram experiências de outras escolas municipais das mais diversas no tocante à gestão: conservadora, gerencial de resultados e em alguns casos, em passos largos rumo à gestão democrática.

Nesses dois anos de atuação como gestora, tenho trabalhado para implementar ações que promovam a participação da comunidade na gestão. Há, como já apresentei em outras atividades deste curso, resistência por parte de alguns profissionais e pouco interesse de parte dos pais em participar da gestão concretamente, aí, vêem-se traços da gestão conservadora.

Noutros momentos, por conta das orientações recebidas da SME, vejo traços da tendência gerencial de resultados, angariando recursos para suprir necessidades de uma escola recém-inaugurada, desprovida de patrimônio ou de funcionários suficientes, por exemplo.

A construção do PPP de nossa escola é mais uma oportunidade de superar os empecilhos à gestão democrática. Envolver o Conselho de Escola nesse processo é fundamental e tem sido meu maior desafio. Felizmente, na última reunião do Conselho Escolar do ano de 2011 aprovamos a criação de um grupo que se reunirá mensalmente para estudar o material do Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares.

Logo, afirmar que a gestão de minha escola tem se caracterizado com uma tendência ou outra, seria simplificar o que é muito complexo. Assimilar o princípio de democracia e de cidadania é um grande desafio para todos: gestores, famílias, comunidade... Temos sim, equipe gestora e grande parte da equipe escolar, nos empenhado na transformação do cotidiano dos cidadãos que frequentam a escola, sejam eles, alunos, funcionários, pais, etc. Assim, a gestão democrática é uma meta para nosso plano de ação.

Gestão democrática aqui entendida, como participativa. Uma gestão que reúna ao menos representativamente, todos os segmentos escolares – alunos, pais, funcionários, professores, direção, etc. – em momentos de tomada de decisão ou de avaliação da aprendizagem ou institucional. Utilizo aqui as definições dos organizadores do guia de estudos da disciplina de PV para democracia – “baseada nos seguintes aspectos: decisões tomadas coletivamente; discussão e elaboração do PPP por todos os membros da comunidade escolar, refletindo a organização da escola e do trabalho pedagógico; consideração das diferenças locais, sociais e culturais dos alunos e da comunidade em que se insere a escola; planejamento escolar que assegure a articulação das tarefas da escola, as necessidades do contexto social e o processo de participação democrática.”

O fortalecimento do Conselho Escolar é fundamental para que a gestão democrática seja implementada em nossa escola. Garantir que os membros do Conselho de Escola tenham conhecimento de suas funções e da importância de sua atuação na gestão é o principal objetivo do grupo de estudos aprovado e que deverá se reunir já no primeiro mês letivo de 2012.

A gestão democrática também exige autonomia financeira e nesse aspecto, a Associação de Pais e Mestres é participativa, tanto dos momentos de tomada de decisão sobre os recursos recebidos, quanto dos momentos de prestação de contas.

Como já observei na atividade nº 3 de PGE,  tanto a participação da comunidade por meio dos órgãos colegiados nos momentos de discussão e decisão, quanto o financiamento público das escolas, são condição indispensável para que a Gestão Democrática se concretize dentro das escolas brasileiras.

Logo, os recursos financeiros obtidos pela escola têm duas origens principais: as verbas públicas repassadas e a arrecadação de contribuições feitas pelas famílias dos alunos e em momentos de festas.

Um plano de ação dos gastos é elaborado após o levantamento das prioridades da escola e apresentado para aprovação dos membros da APM. Ao término da execução do plano de ação é realizada a prestação de contas também aos membros da APM e nos casos de verbas públicas, também à SME que encaminha os documentos probatórios ao TCE.

Atendendo ao proposto na ATPV7, foi apresentado o exposto acima ao Conselho de Escola que fez as seguintes considerações:

- O município avançou muito na última década no que tange à democratização da gestão das escolas de sua rede de ensino, como exemplos, a realização de concursos públicos para ingresso dos servidores e a criação do Orçamento Participativo.

- A direção da unidade de ensino tem desenvolvido ações para a concretização da gestão democrática, embora, ainda haja arestas a serem aparadas, como maior participação dos membros do Conselho de Escola em reuniões ordinárias, elaboração de um plano de ação para a conquista de autonomia pedagógica, jurídica e administrativa, criação do Grêmio Estudantil.

- A construção do Projeto Político Pedagógico é o meio mais eficaz para a implementação da gestão democrática na escola e cabe especialmente, ao Conselho de Escola, imbuir-se desse instrumento para planejar e avaliar ações nos diferentes aspectos da gestão, sejam eles, jurídicos, financeiros, pedagógicos ou administrativos.

- A aplicação de recursos financeiros obedece a transparência e o plano de ação elaborado pela APM, portanto, o princípio da gestão democrática nesse aspecto está sendo praticado. É claro que a autonomia financeira não se restringe à execução do plano de ação de gastos e há restrições legais de aplicação de recursos que a impedem, como por exemplo, a verba do OP que só pode ser destinada para custeio, quando se pode ter alguma emergência em gastos de capital (roubo de equipamentos eletrônicos ou aquisição de patrimônio).

Em síntese, o Conselho de Escola considera a política educacional municipal como merecedora de elogios no que se refere à melhoria dos investimentos financeiros, à formação dos profissionais por meio do NAPA (Núcleo de Apoio ao Professor e ao Aluno), à realização de concursos públicos, à ampliação da rede de escolas para atendimento da demanda de alunos do Ensino Fundamental e também da Educação Infantil. Há que intensificar ações na formação de outros gestores, como da Supervisão Escolar, bem como, assessorar as unidades de ensino na elaboração de seus Regimentos Internos.

O Conselho de Escola concluiu também que a E. M. “Profª Creusa Gomes de Azevedo” vem cumprindo seu papel social, na formação de cidadãos conscientes de seu papel como sujeitos históricos, integrando a rede municipal de ensino e colaborando para o desenvolvimento da política municipal de educação. A elaboração do plano de ação da gestão da escola confirma o propósito de realizar uma gestão participativa, democrática. Aqui também, registra o Conselho de Escola, há muitas mudanças a realizar, como maior participação dos membros do Conselho de Escola nos momentos de discussão e decisão, atendendo às convocações e aos convites reiterados pela direção da escola.

Portanto, uma gestão democrática é projeto profissional desta gestora. A disposição em participar desta Escola de Gestores é parte das ações para a concretização desse projeto. Assim, justifico o trabalho que venho realizando na gestão da E. M. “Profª Creusa Gomes de Azevedo”, a partir do destacado por Dourado (2006):

“A construção de um projeto político-pedagógico traz à tona questões ligadas à gestão escolar, englobando as questões pedagógicas, administrativas e financeiras. Esse processo deve ser fruto de discussões e deliberações feitas por parte dos diferentes membros da comunidade escolar. Portanto, para a consolidação de um projeto interdisciplinar e globalizador, a escola necessita desenvolver formas democráticas de organização, gestão e funcionamento da escola, dando atenção à melhoria dos processos formativos, à utilização transparente dos recursos e à melhoria das relações de trabalho em seu interior. Desse modo, é necessário a implementação de ações colegiadas articuladas a situações onde o aprender a pensar não se dissocie do executar e, portanto, da efetivação de um projeto político-pedagógico consistente.

O projeto político-pedagógico da escola, enquanto diretriz basilar do projeto educativo que a escola quer implementar, se torna um aliado fundamental na autonomia financeira da instituição, pois, quando pensado coletivamente, contando com a participação e aprovação do conselho escolar, ele ganha força diante da comunidade e do sistema de ensino. Como os Conselhos têm caráter deliberativo e são órgãos fundamentais da escola, enquanto núcleo de gestão, a sua participação na construção do PPP é fundamental.”

Finalmente, garantir a gestão democrática e o direito à educação pública de qualidade, é como já dito, meio e fim da elaboração de nosso Projeto Político Pedagógico. Formar cidadãos plenos de seu papel na construção de uma sociedade mais justa e democrática passa obrigatoriamente por uma escola justa e democrática, afinal, “a escola é parte da sociedade e nela pode-se dar início ao aprendizado de práticas democráticas e igualitárias que poderão contribuir para melhorar as relações de toda a sociedade” (CAMPOS e SCHEIBE, p. 53).



Bibliografia:

AFONSO, Almerindo Janela. Reforma do estado e políticas educacionais: entre a crise do estado-nação e a emergência da regulação supranacional. Educ. Soc., Campinas, v. 22, n. 75, 2001. Disponível em: <http://www.cfge.ufscar.br/file.php/37/Textos/Artigos_e_Textos/Geral/ reforma_do_estado_e_politicas_educacionais_entre_a_crise_do_estado_nacao_e_a_emergencia_da_regulacao_supranacional.pdf>. Acesso em 16 set 2011.

BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm> . Acesso em 30 out 2011.

CAMPOS, Roselane Fátima. SCHEIBE, Leda. Guia de Estudos da disciplina de PV. São Carlos: UFSCAR. 73 p.

DOURADO, Luiz Fernandes. Conselho Escolar e o financiamento da educação no Brasil. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. Brasília, 2006.

DOURADO, Luiz Fernandes. MORAES, Karine Nunes de. OLIVEIRA, João Ferreira. Conselho Escolar e Autonomia: participação e democratização da gestão administrativa, pedagógica e financeira da educação e da escola. 6 p. Disponível em: <http://www.cfge.ufscar.br/file.php  /37/Textos/Artigos_e_Textos/Geral/conselho_escolar_e_autonomia_particpacao_e_democratizacao_da_gestao_administrativa_pedagogica_e_financeira_da_educacao_e_da_escola.pdf>. Acesso em 16 set 2011.

DOURADO, Luiz Fernandes. MORAES, Karine Nunes de. OLIVEIRA, João Ferreira. Gestão Escolar Democrática: definições, princípios, mecanismos de sua implementação. 13 p. Disponível em: <http://www.cfge.ufscar.br/file.php/37/Textos/Artigos_e_Textos/Geral/gestao_escolar_democratica_definicoes_principais_mecanismos_de_sua_implementacao.pdf>. Acesso em 16 set 2011.

DOURADO, Luiz Fernandes. MORAES, Karine Nunes de. OLIVEIRA, João Ferreira. Gestão financeira descentralizada: planejamento, aplicação e acompanhamento de recursos. 6 p. Disponível em: < http://www.cfge.ufscar.br/file.php/37/Textos/Artigos_e_Textos/Geral /gestao_financeira_descentralizada_planejamento_aplicacao_e_acompanhamento_de_recursos.pdf>. Acesso em 16 set 2011.

DOURADO, Luiz Fernandes. MORAES, Karine Nunes de. OLIVEIRA, João Ferreira. O financiamento da Educação Básica: limites e possibilidades. 14 p. Disponível em: <http://www.cfge. ufscar.br/file.php/37/Textos/Artigos_e_Textos/Geral/o_financiamento_da_educacao_basica_limites_e_possibilidades.pdf>. Acesso em 16 set 2011.

DOURADO, Luiz Fernandes. MORAES, Karine Nunes de. OLIVEIRA, João Ferreira. Organização da educação escolar no Brasil na perspectiva da gestão democrática. 13 p. Disponível em: < http://www.cfge.ufscar.br/file.php/37/Textos/Artigos_e_Textos/Geral/organizacao_da_educacao_escolar_no_brasil_na_perspectiva_da_gestao_democratica.pdf>. Acesso em 16 set 2011.

UFSCAR. Material de estudos da Sala Ambiente de Políticas e Gestão na Educação. São Carlos: UFSCAR. 16 p.